Na veia



― Foi lá que eu conheci. No Brasil. Uns amigos da faculdade me ofereceram uma pequena quantidade. Depois disso, nunca mais pude me esquecer. Fiquei viciado. Ah, o Brasil, e suas belezas inigualáveis! As praias que não conheci, as mulheres... sim, mulheres muito bonitas, se me permite dizer. É com todo o respeito! Mas aquela sensação ao provar o pó da paçoca, que eu praticamente injetava de tão ansioso que ficava para consumir o quanto achasse... aquela sensação eu não poderia ter em lugar nenhum do Chile.

Depois da tentativa frustrada de almoçar Ceviche no primeiro dia em Santiago, a gente se deparou com um outro local popular chamado Mercado Central. O prédio por fora tinha bom aspecto e o movimento intenso indicava que lá acontecia algo digno de ser compartilhado. Entramos. 

Estávamos certos. Muitas pessoas passando o domingo comendo e bebendo por ali. Era um salão enorme, de teto alto e antigo, um tanto danificado e empoeirado, cercado de restaurantes de todos os modelos, cores e tamanhos, com muita sujeira, luzes, adereços e agitação.

Percorremos a extensão do mercado pela parte interna, observando cada canto, quando de repente alguém nos aponta gritando: "Brasileiros!". Era mais um vendedor de maravilhas (Que ótimo!) e, exatamente como num déjà vu, ofereceu-nos a sua especialidade, mas antes, desfiou um rosário de histórias sobre suas visitas ao Brasil, de como aprecia o povo simpático e as mulheres bonitas, "com todo o respeito!" 

A conversa andou. O rapaz era verdadeiramente um conhecedor de muitas coisas. Dessas coisas, confessou-nos, uma em particular o levou a um vício desenfreado, e a uma crise de abstinência sem precedentes, quando voltou para o Chile. Sim, no Chile não tem paçoca, nem fazem ideia do que seja, talvez imaginem algo como um bastão de trigo e sal, com dendê, banana, café, cachaça e purpurina. 

― Foi lá que eu conheci. Ah... mas ainda lembro. Lembro perfeitamente... 

E depois de todo o blá, blá, blá, mais uma vez (não sem medo de nos arrepender), resolvemos aceitar a sugestão de uma iguaria da região para o almoço. Foi assim que paramos naquele pedacinho do salão que correspondia ao restaurante Jóia do Pacífico

Não demorou muito e o prato chegou, apenas um, por recomendação, pois os pratos chilenos são fartos, uma informação que nos foi muito útil durante toda a nossa estadia por lá. Primeiro a imagem: reineta era um peixe de carne levemente rosada, estava coberto com um molho branco e, à parte, uma salada e arroz. Não sabemos se a salada e o arroz eram tão bons quanto o chefe nos afirmou, mas o peixe... Era realmente fantástico, uma combinação perfeita de temperos, preparado com um minucioso cuidado, muita precisão no tempo de cozimento, como num restaurante chique, mas sem frescura, sem avareza da porção e muito, muito barato. 

Então, restaurados na fé em indicações de desconhecidos e devidamente alimentados, seguimos com nossas andanças. Mochila nas costas, várias camadas de protetor solar, mapa na mão e muita disposição para conhecermos tudo o que puder caber em três dias. Demora bem mais para contar, mas em algum momento, eu chego no ano novo. Esse foi o nosso Natal de 2011. 

**

Comentários

Mais Contados

Diálogo da relativa grandeza

Re-Constitución

Conversa franca