O tempo dos 30


― Tia, você fala muito difícil!

E eu pensava que era a pessoa mais simples do mundo. É muito difícil encontrar quem nos entenda como nós mesmos. Isso às vezes nos faz muito solitários, agora está mais do que claro.

Estaríamos menos sozinhos se fôssemos mudos? Talvez. Mas a linguagem é apenas uma dentre tantas coisas que já não compartilhamos. Por exemplo, a profissão de datilógrafa. Eu mesma fiz um curso achando que seria muito útil. Foi um sacrifício só. Passava o dia na escola apenas com um pão e uma garrafinha de água, esperando a hora da aula. Treinava numa Olivetti antiga, com as letras todas cobertas com corretivo branco. Tinha que aprender a digitar sem olhar o teclado.

― Tia, o que é isso?

― É uma máquina de escrever, criança.

― E onde é a tela que aparece o que a gente escreve?

Pois é. Minha geração e a da minha sobrinha, mesmo tão próximas, já não se entendem direito e não vemos a mesma realidade. Mesmo mundo, outra rotação. Eu agora com 30 anos e ela com 14. Ela na fase de se encontrar; eu na crise de me entender.

E vão-se os tempos...

E que venham os 40!

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