Última chamada


Acho que todo mundo já passou por uma situação em que ouvimos uma coisa diferente do que está sendo dito. Verdade? Sabia!

No meu caso, demorou um tempo para perceber. Precisei me dominar primeiro, conformar-me com pelo menos mais uma viagem de avião para, então, alcançar a mensagem obscuramente oculta por trás de todos aqueles informativos, que fatidicamente devem ocorrer em todos os voos, sejam para perto ou para longe. 

E, se você ainda não se apercebeu da questão, o que é normal, já que estou contando isso com a linearidade de um bêbado caminhando com suas próprias pernas, vou levá-lo ao ponto da conversa em que meu cérebro, já esperto, enfim compreendeu os tais comunicados: 

― Senhores passageiros, bem-vindos ao voo 456, com destino a Brasília. ― É o que eu ouvi, mas não é o que estão dizendo. Certeza. O que querem mesmo que a gente entenda é o seguinte: "Se você não é desse voo e não está indo para esse lugar, caia fora agora mesmo. É sua última chance, não vamos avisar de novo."

― Você já sabe, mas não custa lembrar: é proibido fumar dentro da aeronave. Pedimos que, por favor, desliguem todos os aparelhos eletrônicos. Em instantes demonstraremos os procedimentos de emergência. ― Então está dito: "Você sabe, mas é brasileiro e teimoso, então a gente reforça: não é pra fumar, nem tenta falar ao telefone. Lembra quem está no comando aqui?"

Depois dessa revelação súbita, fiquei na dúvida do que pensar a respeito disso aí que estão fazendo na minha frente agora... Esse povo todo, que voa para um lado e para outro e não chega a lugar nenhum, alegando que é profissão, passou a ser alvo de minha mais sincera desconfiança. Mais um bom motivo para não andar, nunca mais na vida, de avião, não acham? Quê? Pretexto? Medo de voar? É nada! Eu disse isso? 

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