Época genial


Em uma ocasião de total despreocupação, sentei-me ao lado do meu professor de filosofia na faculdade, durante o intervalo do seminário semestral de Literatura e Cultura, proporcionado pela instituição de ensino que frequentei há uns anos.

Ele era um senhor de moderados gestos, fala calma, tom sincero e sábio. Tudo nele combinava com um filósofo, pelo menos com um que eu idealizava. Ouvi-lo, mesmo contando o caso mais banal, era sempre um aprendizado, um mestre nato.

Estávamos lá, olhando o movimento das pessoas e falando sobre programas de televisão em nossos dias. Muitas opiniões comuns, discursos surrados que ouvimos sobre exposição da violência, da imoralidade, da futilidade... essas coisas que estão aí na tela, é só ligar o aparelho e colocar em qualquer canal.

O assunto evoluiu até chegarmos às personalidades inteligentes. Durante a conversa, concluí que eu tinha uma pontinha de tristeza por ter nascido numa época em que não se ouvia falar muito dos grandes gênios como antigamente, ninguém mais visto, considerado, seguido, imitado como um exemplo intelectual. Essas pessoas quando aparecem, dizia eu, logo se apagam. Se não são celebridades, se não provocam escândalos, se não são protagonistas de nenhum evento de horror, acabam recolhidas a um mundo imaginário e quase inacessível para a maioria das pessoas. 

Ao expor esse meu pensamento, qual não foi minha surpresa ao ouvir do professor um monocórdio consentimento. Sinceramente, achei que ele fosse contra-atacar me dizendo que não importava de fato se esses gênios apareciam para o mundo, o que importava é que eles existiam, e que estavam fazendo muito coisa naquele exato momento. 

Hoje entendo aquela resposta do meu professor. E entendo também como eu estava sendo ingênua ao lamentar a falta de gente como John Forbes Nash ou Stephen Hawking. Porque no fim das contas, de nada adianta ser notado se não se pode ser compreendido. E isso eu tinha que ter percebido naquele momento, lá no intervalo, quando mais ninguém se aproximou, sequer notaram a figura idosa interessantíssima sentada ao meu lado, com a cabeça cheia de conhecimentos e os olhos vivos, ainda atentos a tudo em volta, mas sem nenhum prêmio, nenhum programa de televisão correndo atrás, nenhum repórter pressionando por uma entrevista. Hoje sim entendo aquela resposta.

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Comentários

  1. De uma coisa tenho certeza, dias melhores virão!
    Bj
    Rose

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  2. Querida Nina
    Gostei muito desse post, mas não sei se realmente não existem mais "grandes mestres" escondidos por ai na "massa" que não se importa e nem procura por eles. Eu não tenho fé na humanidade, nem em seu poder de resolver os assuntos mais importantes ( a morte, as guerras, algumas doenças) isso nem os humanos e nem as mentes brilhantes do passado poderiam ter resolvido. Mas olha existe alguem que podemos seguir os passos sem medo de errar, Jesus. Esse sim vale a pena pesquisar sobre ele, refletir sobre seus conselhos... Um bjo grande e continue escrevendo tão bem

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