O que se leva


É difícil compreender como algumas pessoas sentem tanta necessidade de mostrar ao mundo, a todo custo, o sofrimento pela morte de um famoso que nunca nem viram de perto. Bom, cada um tem seu jeito. É uma condição irrevogável, que facilita muito se entendermos e aceitarmos logo. 

A minha opinião pode alcançar quem concorde, discorde, ou quem simplesmente ache tudo insignificante. Duvido muito ser importante o modo pelo qual expresso meus sentimentos em relação à morte de um grande artista, se sofro a ponto de me vestir como ele e sair por aí fazendo imitações ridículas, ou se faço greve de fome, de banho, de silêncio... 

Para mim, mais produtivo e prático seriam uns momentos de reflexão. Mortes semelhantes à de Amy Winehouse poderiam nos fazer pensar em como alguns lidam com a vida, enfrentam as dificuldades, cuidam de sua própria existência, e como se vão de um jeito tão estúpido, levadas pela própria ação.

Não digo que Winehouse, ou outro alguém com a mesma sorte, merecesse morrer porque não deu muita atenção aos riscos que ameaçavam a vida. Nenhum de nós deveria se imaginar capaz de fazer julgamentos a respeito de quem merece ou não qualquer coisa. Mas digo que não é preciso fazer disso motivo de indignação ou revolta contra as fatalidades, pois bem sabemos que fatalidade não teve nenhum expediente aqui.

Pode parecer insensível olhar dessa maneira? Talvez seja. Mas o que está feito, está feito. E não há nada que possamos inventar para desfazer a morte. À parte do que realmente somos, das nossas crenças e convicções, que cada um absorva, a seu modo, em homenagem sincera aos famosos e aos anônimos, a lição considerada mais valiosa. É o que se pode levar e o que podemos deixar: um tributo silencioso e único, para quem ainda está aqui e nos é importante.

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