A batalha


Na primeira vez, houve muitos estampidos. Consegui me abaixar, porém fui atingido. Pensei estar no Maracanã e gritei todos os palavrões que vieram a minha cabeça. Alguns instantes se passaram e vi que o melhor era esperar a situação se acalmar, para que eu pudesse enfim fazer uma aproximação. Nessa hora, quase desisti de enfrentar o inimigo ali esparramado na frigideira, imóvel, aparentemente domado, mas não me dei por vencido. E concluí que enquanto está cru, envolvido em sua casa frágil, ele é considerado um fresco ou inofensivo, porém, para torná-lo frito a chapa literalmente esquenta. 

No livro A Arte da Guerra, há passagens dizendo que você precisa conhecer bem o seu inimigo para poder enfrentá-lo. Digamos que pulei essa parte, fui diretamente ao confronto face a face. Animado, coloquei um pano de prato sobre o braço esquerdo (esse seguraria o cabo da frigideira) e a mão direita, munida de "espumadeira", eu usaria como um esgrimista para atingi-lo ― claro que tendo o cuidado de não feri-lo. Estava tudo se encaminhando conforme o meu estabelecido: ovo quebrado, óleo no fogo, braço protegido e arma na mão. Coloquei o ovo na frigideira e habilmente agarrei o seu cabo, como se fosse a manga do quimono de um judoca, tentando a melhor maneira de domínio. Lentamente, com a mão direita, atingi em cheio a parte inferior do inimigo. Respirei fundo. Acredito ter envelhecido 100 anos, pois sentia meu rosto todo em forma de sanfona, mais enrugado impossível. 

Na modalidade saltos ornamentais, quanto menos água espalhar, mais perfeito é o salto. Coloquei isso em prática! Com um ipon (golpe perfeito no Judô), consegui vira-lo sem destroçar o seu coração, o que é mais importante. Lembrando que houve estampidos, chiadeira e movimentos bruscos, entretanto, a batalha estava vencida. Digo batalha mesmo, com direito à destruição e muita desordem. A cozinha era uma verdadeira praça de guerra, sujeira para todos os lados e tudo espalhado. 

Reconheço que enfrentei um grande oponente, venci a briga quase sem nenhum arranhão. Porém, se tiver quem brigue no seu lugar, fique no comando e mande-os para a linha de frente, pois o inimigo é poderoso e pode causar algumas baixas. Como estrategista, sou solicitado para outras batalhas.


(Autoria de CBS, amigo e colaborador)

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